Era como se meus pensamentos subissem os degraus de seus vincos... ajudando o raciocínio, as decisões, as definições dos conceitos sobre tudo e sobre todos. Eu era o dono do mundo! Apenas o mundo não sabia disso, mas eu era.
E ela tinha vontade própria! Não adianta dizer que não, ela tinha. Era viva e eu sentia sua respiração sobre a minha pele. Sua quentura, seu suor, sua mania de estar sempre certa. E eu sentia que estava certa, até mesmo quando a ouvia e me ferrava eu achava que havia sido um erro de interpretação.
Caramba, como ela era mandona! Sabe aquelas festas chatas que você só vai por consideração a um amigo? Cara, eu decidia que não ia, tomava banho, deitava na cama e ela ficava lá, me olhando largada naquela poltrona. Suja, cansada, mas disposta a mais ousadias. Para ela o dia não tinha fim. Não havia ponto final. Eram só interrogações e sempre do tipo: onde vamos agora????
Sabe, eu não podia decepcioná-la. Não a ela, que sempre topava tudo comigo. Um dia obriguei-a, após uma noite inteira de dança a entrar no mar comigo. Putz, tava um frio de torá! Mas ela foi. Cheguei em casa e fiquei tremendo embaixo do chuveiro quente, tomei um café e a olhei de longe. Tava ali, secando ao vento, largada, esperando que eu adormecesse para enfim descansar!
Deixou-se tatuar quando os amigos se despediram do colégio. Tudo era festa e toda a festa ficou registrada ali, no seu corpo. Eram nomes pra num acabar mais. Ficou toda riscada. Sei que não gostou disso, mas fazer o que? Todas as outras fizeram, afinal, era uma despedida, íamos para a faculdade (talvez) e nossos destinos estavam sendo traçados.
Bem, mas como eu disse, ela tinha vida própria, ela sentia e mais uma vez me compreendeu.
Quantas baforadas aguentou enquanto tragava minhas inseguranças dentro do esboço que a vida ia traçando à minha frente.... Quanto rock teve que ouvir para que eu não ouvisse nada que meus pensamentos queriam me dizer????
Ah..... até hoje me lembro quando a procurei e não achei. Sei lá, talvez tenha ficado naquela viagem de intercâmbio. Talvez o destino tenha nos separado dessa forma para que eu não sentisse a dor do rompimento. Mas eu senti, senti, sinto e morro de saudades dela!
Ela era velha, surrada, azul, desbotada e riscada, mas foi minha companheira em tantos anos das minhas mais inesquecíveis caminhadas.
(Taciana Valença)
Quem falou que Poetas não se vestem de emoções, de roupas marcvadas, surradas pela vida, um bluejeans?
ResponderExcluirParabéns!
Nelinho