quarta-feira, 14 de outubro de 2009

GARIMPANDO O PASSADO


A escavação no Sítio da Trindade, em Casa Amarela, iniciadas em abril deste ano, tem como objetivo, “redescobrir” o Forte Arraial do Bom Jesus, também chamado de “Arraial Velho”, antes construído em taipa de pilão pelo General Matias de Albuquerque, entre 1630 e 1635. O Sítio da Trindade, numa área de terreno elevado, teve importante papel no período da invasão holandesa (1630-1654), onde o forte foi foco de resistência luso-brasileira contra os flamengos, que bombardearam e tomaram o mesmo, no ano de 1635.

Com a presença do forte, o exército montou acampamento nas redondezas e uma população de cerca de mil pessoas, antigos habitantes de Olinda, tendo abandonado suas casas, migraram para lá, temerosos do que aconteceria. Dentre os residentes, havia um grande número de eclesiásticos, particularmente franciscanos, que no Arraial erigiram um oratório para celebrarem missas e outros atos religiosos.

Em pouco tempo surgiram barracas de comerciantes que aos poucos construíram estabelecimentos ao redor da fortaleza. Para os portugueses, o local era um ponto estratégico, impedindo a entrada dos holandeses para o interior, rumo aos engenhos e às plantações de cana-de-açúcar que, na época, representavam as maiores riquezas da capitania de Pernambuco.

Entretanto, como conseqüência dos ataques sofridos por parte dos inimigos, da falta de armamentos e de uma alimentação adequada, o Forte Real do Bom Jesus, apesar de todos os esforços empreendidos, capitulou em 1635.

Os portugueses construíram um novo forte, na Madalena, que foi denominado de Forte Real do Bom Jesus, mas ficou sendo chamado de Arraial Novo, para se distinguir do anterior. Esse Arraial foi o quartel-general dos restauradores de 1646 a 1654, e, as suas ruínas ainda podem ser observadas na Avenida do Forte, no bairro de Torrões.
Enquanto isso, alguns moradores voltaram ao Arraial Velho, para repararem casas bombardeadas e construírem novas. Com o tempo, as terras foram divididas em sítios e propriedades, surgindo assim novas ruas e estradas, além de novas moradias.

Mais tarde, as terras do Arraial passaram às mãos da família Trindade Paretti. Por essa razão, o espaço ficou sendo chamado de Sítio da Trindade. Este Sítio possui um chalé com 600 metros quadrados de área construída, e abrange 6,5 hectares de área verde. Nele, algumas placas podem ser observadas. Em uma delas, lê-se:
Caminhando pelas terras deste sítio, estais pisando o solo em que se moveram Matias de Albuquerque e tantos outros heróis da luta contra o invasor.

Na frente de um obelisco de granito, com dois metros de altura - um marco comemorativo que foi inaugurado no dia 30 de janeiro de 1922 – percebe-se uma outra placa:

Aqui existiu o Forte Arraial do Bom Jesus (Arraial Velho) 1630 – 1635. Instituto Arqueológico, 1922.

Existe ainda um monumento singelo de cimento, com um medalhão e uma placa, onde se encontra gravado:

Ao eminente naturalista José Pedro de Faria Neves, homenagem do povo do Recife.
Em 1952, o Sítio da Trindade foi desapropriado e declarado como um bem de utilidade pública. E, em reconhecimento à sua importância histórico-social, no dia 17 de junho de 1974, o local foi classificado como um conjunto paisagístico e tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Por estas razões, destacamos nesta edição a importancia dessas escavações, desenterrando um pedaço da nossa história que merece ser garimpada, estudada e valorizada pelo povo Pernambucano.

Agradecimento ao arqueólogo Marcos Albuquerque -
Coordenador do Laboratório de Arqueologia da UFPE

FONTES CONSULTADAS:
COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
RECIFE. Prefeitura da Cidade. O Recife, histórias de uma cidade. In:
A CONQUISTA flamenga. Recife, 2000. Fascículo dois.

Taciana Valença
escritora







0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui sua sugestão e/ou comentário, a PERTO DE CASA agradece.