segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O rio e a cidade








Tu vens de muito longe, há muito tempo, desde que te chamavam de Caapiuar-y-be. Vences barreiras, abres veredas – e chegas aqui qual amante que se aloja no leito da mulher amada: ora forte, exuberante; ora sinuoso, como que a contorcer-se preguiçoso e carente após tremenda peleja. A cidade amada o acolhe sequiosa do teu vigor e do teu afeto. O tempo, porém, sob o vendaval da moderna desordem, perturba a tua relação com a cidade como os desencontros da vida ameaçam uma relação de amor. Já não és mais aquele, que ao olhar do poeta Cabral “Engoliu as terras, engoliu as casas,/Engoliu as cercas/E engordou seu corpo/Engolindo as noites, engolindo os dias.” Fostes envolvido pela sanha do lucro, do fausto, da ambição, da desesperança, da dor, do desamor. Agora, quando tu encontras o teu irmão gêmeo, o Bebyrype, e se abraçam ao encontro do imenso oceano, parece-se enfim derrotado. Mas ainda conservas a energia que brota do teu nascedouro, fonte renovável de tua força; e a cidade, essa amante cruel, como que arrependida, parece enfim acordar da longa noite de insensatez e, envolta pelo clamor da reivenção da vida busca reiventar-se a si mesma e te reencontrar como dois seres que se amam retornam à pureza do primeiro encontro .
Que em 2009 o Recife reencontre com o Capibaribe e o Beberibe a senda do amor à vida.




Luciano Siqueira

Um comentário:

  1. Falta agora aos políticos que usam este Rio como argumento eleitoreiro fazerem a parte deles, qual seja, CUIDAR do Rio com desvelo e seriedade. O Rio não pode morrer, há vidas no Rio.

    Boa nOite

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