terça-feira, 30 de setembro de 2008


... por quais caminhos seguiram
o curso das águas que te levaram
desembocaram soltas ao rio
ou estagnadas e pensativas ficaram?
(Taciana Valença)


Uma vez, um turista fez uma observação interessante sobre alguns nomes de bairros que soam angustiantes como: Aflitos e Afogados. Talvez nunca tenhamos parado para pensar no porquê dos nomes dos nossos bairros e o que significam.

De acordo com Gilberto Freyre, "não se deve desprezar o significado dos velhos nomes de lugares: povoados, vilas, cidades, sob pena de se deixar de sentir o que neles é poesia e não simplesmente história".

O nome Apipucos é de origem tupi (Apé-Puc) e significa encruzilhada de caminhos, embora alguns prefiram traduzir o termo como caminho que bifurca. É nessa antiga bifurcação ou encruzilhada, que está situada a praça principal do bairro. Esses caminhos tinham os seguintes itinerários: um descia para o rio Capibaribe e o outro vinha da mata de Dois Irmãos.

Segundo o cronista Pereira da Costa, o nome Apipucos aparece em um mapa do período colonial de Pernambuco, assinalando um encontro de dois caminhos que se conjugavam. Foi nesta encruzilhada, em forma de Y, configuração urbana que se mantém até hoje, que nasceu o povoado. O bairro surgiu de um desdobramento do antigo engenho São Pantaleão do Monteiro. No final de 1577, parte dessas terras foi subdividida, surgindo o engenho Apipucos, de propriedade do colono Leonardo Pereira.

Até o século XVIII, a paisagem era característica de engenho. A partir da primeira metade do século passado, com o surgimento da chamada hidroterapia, a localidade recebeu seu primeiro veranista. Abastadas famílias da capital, fugindo do calor recifense, refugiavam-se, por alguns meses, no bucólico e aprazível Apipucos, onde iriam receber a brisa suburbana e refrescarem-se nas águas do açude existente na localidade. Surgiram, então, chácaras, sítios e até alguns hotéis. As águas do rio Capibaribe naquela região eram recomendadas para banhos medicinais. No século XX, o bairro ganhou uma nova configuração urbana: foi escolhido como local de residência pelos ingleses, que introduziram o hábito de construir casarões com jardins e utilizar a água como recurso paisagístico. Foi instalada a Fábrica de Tecidos Othon Bezerra de Mello (Fábrica da Macaxeira); houve a ocupação dos morros e do loteamento de mesmo nome às margens do açude. Apipucos, ao longo de sua história, teve moradores ilustres como, Delmiro Gouveia, o pintor Murillo La Greca, o jornalista Assis Chateaubriand, o historiador Alfredo de Carvalho, a família de Burle Marx, parentes de Demócrito de Souza Filho e o sociólogo Gilberto Freyre, cuja residência conhecida como o Solar de Santo Antônio, hoje abriga a Fundação Gilberto Freyre.


Sugestão de visita em Apipucos

Casa-museu Magdalena e Gilberto Freyre/Fundação Gilbero Freyre Guarda registros da vida e do acervo do notável sociólogo e escritor, autor de obras como Casa-Grande & Senzala” e “Sobrados e Mocambos”. Rua de Dois Irmãos, 320, Apipucos. Telefones: (081) 34411733/ 34412883 Visitação: 9h/17h (seg. a sex.) Entrada: R$ 3,00


Fontes Consultadas:

ALVES, Cleide. Apipucos. Jornal do Commércio, Recife, 14 fev. 2000. Cidades, p.10. FREYRE, Gilberto. Apipucos: que há num nome? Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1983.

Um comentário:

  1. Um belo texto com orientações objetivas. Uma linda historia a ser dividida.

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