INUNDÁVEIS LEMBRANÇAS
Desesperada voltei.
A casa estava lá, do mesmo jeito. As paredes tinham as mesmas cores.
Podia até ouvir o barulho da família. Os dias de festas, papai apressando para a escola, os amigos jogando no terraço... Mas os pensamentos faziam eco...
Faltavam os móveis, os amigos, a família...
Mas eu tinha que buscar aquele documento. Haveria de estar por lá? Provavelmente não, não depois de tanto tempo.
Entrei no quarto que fora meu. Procurei nos guarda-roupas, nas gavetas, olhei também nos outros quartos.
Nada. Não havia nada além do cheiro daquelas alcatifas mofadas pelo tempo.
Comecei a espirrar enquanto andava pelos outros aposentos... Lágrimas escorreram.
Vieram as lembranças. Mas lembranças só não bastavam.
Tinha que achar o documento!
Mas nada! Não encontrei nada!
De repente águas pareciam inundar a casa.
Vinham de todos os lados. O que teria acontecido? Seria água da piscina?
Parecia lavar tudo. Mas quanta água!
Olhei então para as escadas. Um corpo era arrastado.
Era o corpo do escritor! Meu Deus, por que ele estaria ali?
Procurava o mesmo documento que eu?
Que loucura. Só podia ser um pesadelo!
O corpo desceu boiando e a cabeça encostou em minha perna.
Num ímpeto movimentei-me para correr.
Mas nesta hora ele abriu os olhos e numa gargalhada que jamais ouvi antes falou:
-Peguei você!
(Taciana Valença)
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui sua sugestão e/ou comentário, a PERTO DE CASA agradece.