terça-feira, 13 de julho de 2010

Movimento de Cultura Popular é o homenageado do FIG 2010




A 20ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG 2010), que acontece de 15 a 24 de julho, homenageia um dos mais importantes movimentos sociais já vistos no país: o Movimento de Cultura Popular (MCP), que teve início em Pernambuco e que agora está completando 50 anos de história. No dia 16 de julho, às 16h, o FIG trará para cidade alguns dos fundadores e colaboradores do MCP para participar de uma mesa redonda que terá como tema “A experiência do Movimento de Cultura Popular”. A discussão, que acontecerá no Teatro Luiz Souto Dourado, será conduzida por Silke Weber, Abelardo da Hora, Germano Coelho, Geraldo Menucci e Joacir de Castro. Uma ótima oportunidade para os estudantes e profissionais desta geração conhecerem um pouco mais sobre a história da educação no Brasil.

O ano era 1960. O Brasil ainda vivia a democracia e o presidencialismo, sob o governo de Jânio Quadros e, mais tarde, de João Goulart. Uma fase em que o país ainda respirava a herança do espírito nacionalista deixado por Getúlio Vargas e a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Fase, também, de grandes tensões sociais e políticas, que se tornaram ainda mais acirradas devido às reformas de base propostas pelo governo de João Goulart, que envolviam reformas agrária, urbana, eleitoral, tributária e educacional. Esta última propunha aumentar o número de escolas públicas, matricular todas as crianças brasileiras na rede de ensino e combater o analfabetismo.

As reformas eram temidas pela oposição, apoiada por latifundiários e lideranças econômicas, que alegava uma ameaça comunista. Já as massas trabalhadoras mobilizavam-se cada vez mais contra a exploração das classes dominantes. Foi justamente nesse contexto que o MCP se formou. De 1960 a 1964, durante o governo de Miguel Arraes e Pelópidas Silveira, o MCP revolucionou o sistema de educação e alfabetização do Estado por meio de uma articulação cultural. Durou apenas quatro anos, porque foi censurado pela Ditadura Militar, mas foi o suficiente para se tornar conhecido nacionalmente e mundialmente, servindo de referência para diversos países. Foi instituído por um grupo de intelectuais, que, com a participação do povo, elaborou um plano de ideias fundamentadas a partir da arte, sobretudo das raízes da cultura popular.

Teve como condutores e idealizadores grandes nomes da educação e da classe sócio-político-cultural pernambucana como Paulo Freire, Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna, Abelardo da Hora, Germano Coelho, Silke Werber, Paulo Rosas, Gerado Menucci, Mário Cancio, Francisco Brennand, Luiz Medonça, Joacir Castro, Josué de Castro e tantos outros intelectuais atuantes na época. Cada um dando contribuindo na área em que atuava. O movimento também contou com apoio de diversos setores da sociedade que estavam insatisfeitos com as desigualdades sociais, entre eles as igrejas de religião cristã e os partidos progressistas.

Para a pesquisadora e pedagoga Letícia Rameh, autora do livro “Movimento de Cultura Popular: impactos na sociedade pernambucana”, o MCP trouxe mudanças significativas para as condições de vida da população pernambucana, bem como foi responsável por transformações relevantes na cultura popular. “O MCP buscava uma melhor qualidade de vida por meio da educação. O movimento enfatizou a educação popular e lutou pela transformação estrutural da sociedade, funcionando como instrumento de mudança social. Serviu de referencia para todo o Brasil”, diz Letícia.

O MCP desenvolveu um projeto educacional que culminou na construção do sistema de educação escolar do município do Recife, apoiado na revalorização da cultura local. Também participou da elaboração do Sistema Paulo Freire de Educação, que propunha uma educação diferente dos padrões tradicionais, mais voltada para o estímulo à formação da cidadania, por meio da cultura popular, da produção artística. Este sistema atuou nacionalmente e ganhou reconhecimento internacional.

O Movimento também teve participação nas reformas de base com o objetivo de alterar o quadro de miséria e de subdesenvolvimento que havia em Pernambuco. “O MCP mostrou que é possível unir a administração pública, a empresa privada, o idealismo de setores intelectuais e a espontaneidade de colaboradores em benefício de um país econômica e socialmente mais justo”, diz Letícia Rameh. O Movimento de Cultura Popular foi extinto em 1964 pela Ditadura Militar. Documentos foram incinerados e alguns dos colaboradores foram exilados do país.

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