segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ponte D'Uchôa de ontem e de hoje


- Subam por favor, a Maxambomba vai partir...


- Madame...seu chapéu.


- Sentirão uns solavancos vez por outra, porém, neste agradável passeio, uma brisa suave sentiremos, vinda do rio e do mangue, onde as canoas seguem transportando passageiros e cargas para Olinda e povoados às margens dos rios.


- Recife hoje, é um importante centro comercial, com potencial exportador concentrado na cana-de-açúcar e algodão. Esta locomotiva mirim que puxa o vagão em que estamos, veio impulsionar o desenvolvimento da cidade. O uso de cavalos e carruagens sai muito caro para a maioria da nossa população. Os senhores, que aqui estão, pagaram 400 réis, enquanto uma carruagem cobraria 1000 réis, vejam só. Além do mais, os caminhos alagadiços estão pedindo benfeitorias, assim como água potável e iluminação. A população está crescendo rápido, já passamos dos 75mil habitantes...


- Para construir a estrada de ferro a cidade se modernizou, com a construção de duas grandes pontes de ferro e serviços de infra-estrutura. Além do mais, a ferrovia está sendo muito útil para a elite local chegar às áreas de engenho.


- Vai descer, senhora?


- Sim, obrigada.


- Desço e aqui deixo a maxambomba, tomando o ônibus que segue para o agora...


Trouxe comigo, essa denominação que parece esquisita: “maxambomba”, mas que na realidade é uma corruptela da expressão inglesa “machine pump” (bomba mecânica), como acabou popularmente batizada. Vale ressaltar que este foi o primeiro sistema de transporte urbano sobre trilhos do país, inaugurado em janeiro de 1867.


O Recife foi a primeira cidade da América Latina a dispor de transporte urbano por via férrea. A linha férrea ligava a Rua Formosa (hoje, Conde da Boa Vista) à então povoação de Apipucos.A concessão foi dada pelo governo provincial em 1863 à firma inglesa BrazilianStreet Railway Company Limited.


As locomotivas começaram com três carros, mas chegaram a puxar 17 deles. Até 1890, cada um carregava 28 pessoas – depois disso foi desenvolvido um novo modelo que dobrou a capacidade de passageiros.


O sucesso da maxambomba estimulou a concorrência de outras companhias de trilhos urbanos em rotas diferentes dentro do Recife e arredores e mexeu com o comércio. Antes de 1867 as lojas fechavam às 18 horas. Com o sol forte durante a maior parte do dia, as sinhazinhas preferiam fazer compras mais tarde e o comércio passou a fechar às 21 horas, último horário em que a ferrovia funcionava.


Com 22 quilômetros de trilhos e 20 estações, a maxambomba durou até 1914 – em alguns ramais ela só foi aposentada em 1919. No lugar deles, ficaram os bondes elétricos.Nossa Capa é da antiga estação Ponte D’Uchôa, construída em 1865 pela empresa Trilhos Urbanos, hoje, apenas um monumento preservado e uma lembrança dos tempos das Maxambombas...


O nome Ponte d'Uchoa tem relação como senhor de engenho Antônio Borges Uchôa, do Engenho da Torre, que viveu no século XVII. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, para permitir acesso à outra margem do Rio Capibaribe, onde moravam parentes seus, ele construiu uma ponte, que ficou conhecida como Ponte d'Uchoa, e assim ficou denominada a área adjacente à outra margem do rio que fazia ligação por ponte a sua propriedade.


A Maxambomba percorreu os trilhos do Recife até 1915.Em 1916 a empresa Pernambuco Tramways & Power Company, detentora das linhas de bondes e de distribuição de eletricidade do Recife, assumiu a estação.Em 1968, quando já não havia bondes e por conta da transferência da distribuição de eletricidade para a Celpe - Companhia de Eletricidade de Pernambuco, o controle sobre a estação também passou de mão. Passou a ser uma parada de ônibus, até 2003, quando também essa parada foi transferida, para facilitar o trânsito local.O prédio da estação de Ponte d'Uchoa está inserido na Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico, compondo o Sítio Histórico de Ponte d'Uchoa. Fica numa pequena praça, uma ilhota no Centro da Av. Rui Barbosa, no limite entre os bairros da Jaqueira e das Graças.

Sua conservação é feita por uma empresa privada local, bem como a conservação da praça onde se localiza.Situa-se em Ponte d'Uchoa, à margem do Rio Capibaribe, um dos vários baobás existentes no Recife.

Dados: Fundação Joaquim Nabuco

Texto: Taciana Valença

Um comentário:

  1. Belo Texto, uma historia linda de uma época interessante onde os homens tratavam o progresso de uma forma mais romântica. Parabéns ao autor deste belo texto.

    ResponderExcluir

Deixe aqui sua sugestão e/ou comentário, a PERTO DE CASA agradece.