terça-feira, 20 de novembro de 2012

INUNDÁVEIS LEMBRANÇAS (conto de Taciana Valença que está na 1ª Coletânea-Laboratório de Literatura Fantástica de Pernambuco- organização: André de Sena e Salete Rêgo Barros)lançada na Fliporto 2012).

INUNDÁVEIS LEMBRANÇAS



Desesperada voltei.

A casa estava lá, do mesmo jeito. As paredes tinham as mesmas cores.

Podia até ouvir o barulho da família. Os dias de festas, papai apressando para a escola, os amigos jogando no terraço... Mas os pensamentos faziam eco...

Faltavam os móveis, os amigos, a família...

Mas eu tinha que buscar aquele documento. Haveria de estar por lá? Provavelmente não, não depois de tanto tempo.

Entrei no quarto que fora meu. Procurei nos guarda-roupas, nas gavetas, olhei também nos outros quartos.

Nada. Não havia nada além do cheiro daquelas alcatifas mofadas pelo tempo.

Comecei a espirrar enquanto andava pelos outros aposentos... Lágrimas escorreram.

Vieram as lembranças. Mas lembranças só não bastavam.

Tinha que achar o documento!

Mas nada! Não encontrei nada!

De repente águas pareciam inundar a casa.

Vinham de todos os lados. O que teria acontecido? Seria água da piscina?

Parecia lavar tudo. Mas quanta água!

Olhei então para as escadas. Um corpo era arrastado.

Era o corpo do escritor! Meu Deus, por que ele estaria ali?

Procurava o mesmo documento que eu?

Que loucura. Só podia ser um pesadelo!

O corpo desceu boiando e a cabeça encostou em minha perna.

Num ímpeto movimentei-me para correr.

Mas nesta hora ele abriu os olhos e numa gargalhada que jamais ouvi antes falou:

-Peguei você!



(Taciana Valença)

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